Oficina Validação Comunitária: “Meninas Quilombolas nas Ciências” apresenta a produção científica de Mulheres Quilombolas
Oficina Validação Comunitária: “Meninas Quilombolas nas Ciências” apresenta a produção científica de Mulheres Quilombolas
30 de setembro de 2024
No dia 30 de agosto de 2024, a Escola Municipal Quilombola Professora Antônia do Socorro Silva Machado, em João Pessoa, recebeu a oficina piloto “Meninas Quilombolas nas Ciências! Podcast na sala de aula”. A atividade envolveu 12 estudantes do 9º ano do quilombo Paratibe e teve como objetivo central apresentar e valorizar a presença e a produção científica de mulheres quilombolas, além de fomentar o interesse por áreas científicas nas novas gerações.
A oficina foi conduzida pela Profa. Dra. Zizele Ferreira, Pós-Doutoranda em Educação, e supervisionada pela Profa. Dra. Dolores Galindo, da Universidade Federal da Paraíba (UFCG), ambas integrantes da Incubadora Social Feminista Antirracista do Norte, Nordeste e Amazônia Legal. Esta Incubadora é responsável pelo projeto "Mulheres Quilombolas nas Ciências: Políticas de Permanência nas Universidades e Produção de Subjetividades", coordenado pela Profa. Dra. Dolores Galindo, que busca promover a inclusão e a representatividade das mulheres quilombolas no campo científico por meio da produção de tecnologias sociais.
Essa oficina representa uma fase piloto do Guia “Meninas Quilombolas nas Ciências”, que está atualmente em revisão técnica e visa integrar as contribuições de docentes, pesquisadoras e especialistas em educação quilombola. O guia pretende facilitar a inclusão das vozes e saberes quilombolas no contexto educacional, utilizando o podcast como um recurso pedagógico que valoriza e reconhece o papel das mulheres quilombolas na ciência.
Durante a oficina, as participantes foram introduzidas ao podcast “Mulheres Quilombolas nas Ciências”, que destaca as histórias e contribuições de mulheres quilombolas no espaço acadêmico. As atividades práticas incluíram a escuta do podcast, discussões em grupo e reflexões sobre como as experiências de vida das mulheres quilombolas se conectam ao conhecimento científico, estejam elas nas universidades ou não. A responsável pela condução das oficinas, pesquisadora Zizele Ferreira (UFCG), alerta que “Segundo a pesquisadora quilombola Givânia Maria da Silva, é fundamental reconhecer os quilombos como legítimos espaços de construção de conhecimento”.
Nesta oficina, esteve presente a Profa. Ma. Luciene Tavares (imagem acima), quilombola de Caiana dos Crioulos, Alagoa Grande-PB, que atua como Supervisora Escolar da Rede Municipal de João Pessoa, especialmente, na Escola Municipal Quilombola Professora Antônia do Socorro Silva Machado. Ela contribuiu falando de sua experiência como pesquisadora ao longo da atividade. Durante a conversa, as participantes dialogaram com Luciene sobre as dificuldades enfrentadas em suas trajetórias e as conquistas que alcançaram, reconhecendo rapidamente o impacto de sua presença como mestra acadêmica no ambiente escolar, embora ainda pouco conhecida. Ela relata:
“A oficina “Meninas Quilombolas nas Ciências” foi muito significativa em nossa instituição. Foi um momento desenvolvido com as alunas dos 9º anos do Ensino Fundamental, que percebemos a participação e a atenção de cada uma das participantes. Enquanto supervisora da instituição me sinto imensamente feliz em a escola ter o privilégio de receber essa oficina, que só vem a valorizar e encorajar as meninas negras quilombolas no despertar de suas trajetórias educacionais e futuramente profissionais, fazendo descobertas e sabendo que podem ser o que quiserem. A oficina trouxe à realidade do contexto brasileiro, o lugar das mulheres negras, suas profissões e como o contexto midiático muitas vezes invisibiliza os saberes dessas cientistas, por isso se faz importante esse trabalho para dar visibilidades às mulheres quilombolas nas ciências e encorajar as jovens a ocuparem esses espaços, que são espaços de poder onde suas vozes possam ser ouvidas. Na oficina a professora Dra. Zizele trouxe a biografia e a histórias de mulheres Quilombolas Cientistas, partindo desde o contexto do estado onde a escola está inserida, me senti imensamente feliz por perceber que também estava presente entre tantas quilombolas maravilhosos, para mim foi gratificante esse reconhecimento. No meu espaço de trabalho poucas vezes falo de mim, ou quase nunca (risos). Talvez por medo dos colegas acharem que estou querendo aparecer, prefiro não ficar expondo minha história, e algumas vezes já me senti triste por ver uns dando engajamento a outras pessoas não negras falarem sobre nós e invisibilizarem as nossas vozes enquanto pessoas negras quilombolas dentro da instituição. Foi por perceber essas ações que vagarosamente fui mostrando que também tenho conhecimento, que sei meus direitos e deveres e que não permito me silenciarem. Percebi que em algumas situações é preciso “gritarmos”, que temos o conhecimento, que estudamos, que somos profissionais qualificados, que a cor da nossa pele e nossa origem não nos impede de sermos o que quisermos ser. Atualmente com o passar dos anos estou me sentindo mais acolhida e abraçada, mas também sempre senti um suporte grandioso, que me deixa feliz por parte da equipe gestora, tenho um apoio muito significativo com as pessoas que compõe a equipe gestora da instituição, a qual agradeço imensamente todo acolhimento, trocas e partilhas. Desta forma ter esse reconhecimento por uma profissional tão reconhecida e admirada como a professora Dra. Zizele deixou meu coração transbordando de amor. Enquanto equipe escolar quero agradecer grandemente por esse momento de conhecimento repassado para as meninas da nossa escola. Por uma sociedade cada vez mais humana, igualitária e equânime.”
O impacto da oficina foi positivo, com 53% das participantes expressando interesse em seguir carreiras científicas, demonstrando a eficácia da iniciativa em inspirar e encorajar as jovens estudantes, ela avalia após retorno do instrumento de avaliação das estudantes participantes.
A pós-doutoranda Profa. Zizele Ferreira ressaltou a importância de repetir a oficina em outras escolas quilombolas ou que atendam estudantes dessas comunidades, avaliando a experiência como essencial para a transformação social. "As participantes mostraram-se interessadas e engajadas, e o impacto positivo no reconhecimento de suas histórias e contribuições para a ciência foi evidente", comentou em um instrumento de avaliação utilizado para diagnosticar o funcionamento da oficina. Com uma abordagem centrada nas vivências de mulheres quilombolas pesquisadoras, a atividade contribui para a valorização de suas trajetórias e para a formação de novas gerações de cientistas que refletem a diversidade e a riqueza de conhecimentos produzidos por populações negras no Brasil.
A oficina "Meninas Quilombolas nas Ciências" é um passo importante na valorização dos saberes quilombolas e na promoção do uso de tecnologias sociais no ambiente escolar. “A Incubadora Social Feminista Antirracista planeja expandir essa experiência para outras comunidades, contribuindo para a formação de futuras cientistas quilombolas”, celebra a pesquisadora Dolores Galindo (UFCG).