O caderno "Carreiras Científicas na Universidade: Traçando Futuridades para Mulheres Quilombolas" está em fase de levantamento de dados e se posiciona como uma ferramenta facilitada como tecnologia social para apoiar a criação e implementação de políticas públicas que visem fortalecer o caminho dessas mulheres nas carreiras científicas.
A publicação tem como objetivo estimular a produção científica e a reflexão sobre as relações de raça, gênero e territórios no Brasil, promovendo a participação das mulheres no campo das ciências e nas carreiras acadêmicas. Baseando-se nas Políticas Públicas de Ações Afirmativas, o caderno propõe diretrizes para enfrentar desigualdades e proporcionar um ambiente mais equitativo para estudantes quilombolas.
No Brasil, a participação das mulheres na ciência tem crescido em todas as áreas. Segundo dados da CAPES (Conferência de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), em 2021, 54% dos estudantes em cursos de pós-graduação são mulheres. Das 405 mil pessoas matriculadas em mestrados e doutorados, 221 mil são mulheres. Elas também predominam entre os beneficiários de bolsas, representando 58% do total de bolsistas stricto sensu em 2020.
Apesar dessa maioria numérica, as pesquisadoras ainda enfrentam desafios significativos em ambientes majoritariamente masculinos. Entre os professores de cursos de mestrado e doutorado, 57% são homens. A presidente da CAPES, Mercedes Bustamante, descreve esse fenômeno como um “telhado de vidro”: barreiras que impedem as mulheres de alcançar os níveis mais altos da carreira acadêmica, apesar de sua competência e qualificação técnica.
A pesquisa sobre o acesso, permanência e progressão das mulheres quilombolas nas carreiras científicas das universidades brasileiras é notadamente escassa. Da mesma forma, há poucos estudos dedicados à formação de doutoras quilombolas e à inserção das egressas dos programas de pós-graduação nesse contexto específico. As informações disponíveis são limitadas devido à ausência do termo "quilombolas" nos documentos internos das instituições de ensino superior até o Censo Demográfico de 2010. Anteriormente, esses grupos eram categorizados junto a pessoas negras, indígenas, amarelas e brancas. A inclusão dos quilombolas como categoria étnico-racial própria ocorreu somente a partir do Censo Demográfico de 2022.
A retomada dos investimentos em educação, ciência e tecnologia no país representa uma oportunidade para apoiar e estimular mais mulheres a seguir carreiras científicas e ascender a posições de liderança. Mercedes Bustamante ressalta a importância de que a sociedade, as agências e as universidades se mobilizem para favorecer a ascensão das mulheres, por meio de atividades afirmativas, para que elas possam se tornar lideranças no sistema nacional de ciência e tecnologia.
O caderno foca nas trajetórias formativas de mulheres quilombolas do Norte/Amazônia Legal e Nordeste, assim como nas violências interseccionais que enfrentam ao longo desse processo. Reconhece-se que a produção científica e a participação acadêmica dessas mulheres têm o potencial de redefinir as universidades e as ciências no Brasil, trazendo novas perspectivas e conhecimentos fundamentais para a evolução da sociedade.
Essa iniciativa destaca a importância de valorizar e apoiar as contribuições das mulheres quilombolas na ciência, oferecendo uma visão holística e prática para superar os desafios enfrentados e promover um ambiente acadêmico mais justo e inclusivo.